Numa homenagem ao Dia dos Avós (26 de julho) e o Dia Internacional do Idoso (1º de outubro), segundo o calendário de celebrações especiais das Nações Unidas, o Jornal Integração tem a honra de poder contar uma história real, registrada em Cartório sob o nº 493.448, livro C-100, Cartório Massote, Contagem/MG:
Relatos de um ex-taxista
Houve um tempo em que eu ganhava a vida como motorista de táxi. Os passageiros embarcavam totalmente anônimos. E, às vezes, me contavam episódios de suas vidas, suas alegrias e suas tristezas...
Encontrei pessoas que me surpreenderam. Mas, NENHUMA como aquela da noite de 25 para 26 de julho do último ano em que trabalhei na praça!
Havia recebido já tarde da noite, uma chamada vinda de um pequeno prédio de tijolinhos, em uma rua tranqüila do subúrbio de Belo Horizonte, capital das Minas Gerais.
Quando cheguei ouvia latidos de cachorros ao longe. O prédio estava às escuras, com exceção de uma única lâmpada acesa numa janela do térreo.
Nestas circunstâncias, outros teriam buzinado duas ou três vezes, esperariam só um pouco e, então, iriam embora.
Mas, eu sabia que muitas pessoas dependiam de táxis como único meio de transporte a tal hora.
A não ser, portanto, que a situação fosse claramente perigosa, eu sempre esperava...
"Este passageiro pode ser alguém que necessita de ajuda", pensei.
Assim, fui até a porta e bati.
"Um minutinho", respondeu uma voz débil e idosa.
Ouvi alguma coisa ser arrastada pelo chão...
Depois de uma pausa longa, a porta abriu-se. Vi-me então diante de uma senhora bem idosa, pequenina e de frágil aparência!
Usava um vestido estampado e um chapéu bizarro, daqueles usados pelas senhoras idosas nos filmes da década de 40! E se equilibrava numa bengala, enquanto segurava com dificuldade uma pequena mala...
Dava para ver que a mobília estava toda coberta com lençóis. Não havia relógios, roupas ou adornos sobre os móveis. Num canto jazia uma caixa aberta com fotografias e vidros...
A velha senhora, esboçando então um tímido sorriso de quem havia já perdido todos os dentes, pediu-me:
- “O senhor poderia me ajudar com a mala?”
Eu peguei a mala e ajudei-a caminhar lentamente até o carro. E enquanto se acomodava ela ficou me agradecendo...
- "Não é nada, apenas procuro tratar meus passageiros do jeito que gostaria que tratassem minha velha mãe...”
-" Oh! Você é um bom rapaz!"
Quando embarcamos, deu-me um endereço e pediu:
-"O senhor poderia ir pelo centro da cidade?"
-" Este não é o trajeto mais curto", alertei-a prontamente.
-" Eu não me importo... Não estou com pressa... Meu destino é o último! O asilo dos velhos..."
Surpreso, eu olhei pelo retrovisor.
Os olhos da velhinha brilhavam marejados...
-" Eu não tenho mais família e o médico me disse que tenho muito pouco tempo..."
Disfarçadamente desliguei o taxímetro e perguntei:
-"Qual o caminho que a senhora deseja que eu tome?"
Nas horas seguintes nós dirigimos por toda a cidade. Ela mostrou-me o edifício na Praça 7 em que havia, em certa ocasião, trabalhado como ascensorista...
Nós passamos pelas cercanias em que ela e o esposo tinham vivido como recém-casados.
E também pela Igrejinha de São Francisco, na Pampulha, onde comemoraram Bodas de Ouro!
Ela me pediu que passasse em frente a uma loja de móveis na região da Praça da Liberdade, que havia sido um grande salão de dança que ela freqüentara quando mocinha!
De vez em quando, pedia-me para dirigir vagarosamente em frente a um edifício ou esquina. Era quando ficava então com os olhos fixos na escuridão, sem dizer nada... E olhava.
Olhava e suspirava...
E assim rodamos a noite inteira...
Quando o primeiro raio de sol surgiu no horizonte, ela disse de repente:
"Estou cansada... e pronta! Vamos agora!"
Seguimos, então, em silêncio, para o endereço que ela havia me dado.
Chegamos a um prédio rodeado de árvores, uma pequena casa de repouso.
Dois atendentes caminharam até o taxi, assim que paramos. Eram amáveis e atentos e logo se acercaram da velha senhora, a quem pareciam esperar.
Eu abri o porta-malas do carro e levei a pequena valise até a porta. A senhora, já sentada em uma cadeira de rodas, perguntou-me então pelo custo da corrida.
Quanto lhe devo?", ela perguntou, pegando a bolsa.
- "Nada!", eu disse.
- "Você tem que ganhar a vida, meu jovem”
- " Há outros passageiros", respondi.
Quase sem pensar, curvei-me e dei-lhe um abraço. Ela me envolveu comovidamente e devolveu-me com um beijo afetuoso e repleto da mais pura e genuína gratidão!
E disse:
-"Você deu a esta velhinha bons momentos de alegria, como não tinha há tanto tempo... Só Deus é quem sabe o quanto você fez por mim! Obrigada, MEU AMIGO! Mil vezes obrigada!”
Apertei sua mão pela última vez e caminhei no lusco-fusco da alvorada sem olhar para trás, pois as lágrimas corriam-me abundantes pela face...
Atrás de mim uma porta foi fechada.
Era o som do término de uma vida...
Naquele dia não peguei mais passageiros.
Dirigi sem rumo, perdido nos meus pensamentos. Mal podia falar.
Dois dias depois, tomei coragem e voltei no asilo para ver como estava a minha mais nova amiga.
Disseram-me, então, que na noite anterior adormecera para sempre, em paz e feliz...
E fiquei a pensar, se a velhinha tivesse pego um motorista mal-educado e raivoso...
Ou, então, algum que estivesse ansioso para terminar seu turno...
Oh, Deus! E se eu houvesse recusado a corrida? Ou tivesse buzinado uma vez e ido embora?...
Ao relembrar, creio que eu jamais tenha feito algo mais importante na minha vida, até então!
Em geral nos condicionamos a pensar que nossas vidas giram em torno de grandes momentos.
Todavia, os GRANDES MOMENTOS freqüentemente nos pegam desprevenidos e ficam guardados em recantos que quase todo mundo considera sem importância... quando nos damos conta... já passou.
AS PESSOAS PODEM NÃO LEMBRAR EXATAMENTE O QUE VOCÊ FEZ, OU O QUE VOCÊ DISSE...
MAS, ELAS SEMPRE LEMBRARÃO COMO VOCÊ AS FEZ SENTIREM-SE.
PORTANTO, VOCÊ PODE
FAZER A DIFERENÇA!
PENSE NISTO!!!
OS IDOSOS DE HOJE, SOMOS NÓS AMANHÃ!
(*) LUIZ ANTONIO RASSELI (Don Rico), nascido em Vitória, capital do Espírito Santo, em 20 de junho de 1951, é filho de Juliano Flores Rassele e Herminia Batisti Rassele, neto de Antonio Rassele e Amabile Cetto, por parte de pai, e de Giuseppe Batisti e Rosa Lodi, por parte de mãe. Casado com Dona Lúcia dos Reis Machado Rasseli desde 1977 e não tiveram filhos. Cursou o primário no Grupo Escolar Gomes Cardim, e o ginasial no Colégio Nossa Senhora da Penha, dos irmãos Maristas, em Vila Velha/ES. Em 1965 tirou o primeiro lugar em concurso literário de âmbito estadual, promovido pela Editora Norma. Data dessa época o primeiro ensaio em forma de romance, obra ainda inédita sob o titulo Quatro e as tentativas iniciais em poesia. Como preparativo para o Curso Superior, fez o antigo Curso Clássico nos Colégios Americano e Salesiano, de Vitória. É diplomado pelo Centro de Ciências Jurídicas e Econômicas da Universidade Federal do Espírito Santo na turma de 1974, valendo destacar que desta Turma saíram também muitos outros ilustres cidadãos de renome nacional. Não por nada é, pois, a UFES (Universidade Federal do Espírito Santo) considerada até hoje celeiro de grandes brasileiros. Luiz Antonio Rasseli fez cursos especiais também no Centro Internacional de Marketing, Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais e Convivium (Centro de Estudos do Desenvolvimento). Possui cursos de especialização em Direito Empresarial, Marketing, Relações Públicas, Relações Industriais, Administração de Pessoal, Administração de Produção e Administração Financeira. Quando ainda jovem e solteiro, exerceu funções de relações públicas, intérprete, supervisor de vendas, analista de mercado e guia de turismo. De 1972 em diante abandonou todas essas atividades para dedicar-se aos estudos concernentes ao Direito, especialmente ao Direito Civil, Internacional, Marítimo e Comercial. E nunca deixou de concorrer aos concursos literários a que teve oportunidade. O que lhe valeu, por exemplo, o sétimo lugar no Concurso Nacional sobre Santos Dumont RN e a Aviação Nacional, com o ensaio Prêmio Centenário Santos Dumont RN. Participa continuamente de seminários e conferências jurídicas, e profere palestras, mormente sobre Mar Territorial. Desde 1974 até fim dos Anos Oitenta militou nos Fóruns do Espírito Santo. E, depois, dai em diante em Minas Gerais. Atualmente, além de Advogado, Luiz Antonio Rasseli é Escritor, Historiador, Delegado do Instituto Cultural Artístico e Literário Alceu Wamosy, e também Imortal como Membro da Academia Porto-Alegrense de Letras, onde ocupa a Cadeira do Padre José de Anchieta. Como Empresário ocupa desde 1990 a função de Diretor-Presidente do Grupo Prosperidade, fabricante de dedos depenadores de aves da reconhecida marca “PROSPERIDADE”®. E desde muito jovem voltou-se para os estudos de assuntos do mar, que o conduziram a escrever o seu Livro MAR TERRITORIAL DE 200 MILHAS, resultado de anos de pesquisas e estudos afanosos. Tem inéditos ainda, dentre outros, O Brasil e a Aviação, Cartas em Trovas, A América do Sul que Conheci e diversos ensaios, estes ainda sem títulos. Além do seu MAR TERRITORIAL DE 200 MILHAS, Livro no qual estão baseados todos os artigos da Constituição Federal de 1988 que versam sobre a soberania territorial marítima brasileira, o Dr. Rasseli tem publicados ainda a Oração do Cachorro, Carta Aberta aos 185 Milhões de Brasileiros e a internacionalmente renomada ÚLTIMA VIAGEM DE TÁXI, uma história verídica ocorrida com o próprio autor em Belo Horizonte, MG, no final dos Anos Oitenta, já traduzida para vários idiomas e que em breve também estará sendo imortalizada em filme.